Segundo OMS, metade dos transtornos mentais tem início antes dos 14 anos.
O Transtorno Borderline (também conhecido como Transtorno de Personalidade Limítrofe – TPL) é uma síndrome, muitas vezes, desconhecida – confundida, até mesmo, com outras doenças. Desse modo, falar sobre ela se torna cada vez mais importante. Os sintomas do distúrbio podem aparecer ainda na infância e adolescência, mas o diagnóstico normalmente é realizado na fase adulta, já que os jovens possuem uma personalidade em formação e alguns traços considerados característicos da enfermidade podem desaparecer com o tempo.
“O problema causa uma ‘montanha russa’ de emoções, o que resulta em uma grande dificuldade em controlar impulsos e a agressividade. O Borderline é considerado um dos transtornos mais sérios; ele acarreta automutilação, agressão física, compulsão e até uso abusivo de substâncias. Cerca de 10% dos pacientes diagnosticados com o distúrbio cometem suicídio”, alerta Jussara Cavalcanti, psicóloga da Clínica Maia e especialista em acompanhamento infantil, adolescente e familiar.Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), metade dos transtornos mentais tem início antes dos 14 anos de idade, e nem sempre são percebidos ou tratados. “Embora não haja uma idade específica para o surgimento da síndrome, pois o início da doença não é algo muito claro e não há um consenso na literatura sobre isso, quando conversamos com alguns pais, estes descrevem crianças, com suspeita de Borderline, como bebês que foram bem mais chorosos que o normal, apresentando, inclusive, episódios de raiva difíceis de abrandar”, conta a profissional.
Os sinais de alerta nos pequenos podem incluir também episódios frequentes de tristeza, maior sensibilidade a críticas e dificuldades em lidar com mudanças na rotina. São crianças que se frustram com mais facilidade; são mais irritadiços e possuem um temperamento bastante difícil e de característica muito impulsiva. Ao estressar-se, o jovem pode demonstrar certos sintomas físicos: tais como puxar fios de seu cabelo, dores de estômago e dores de cabeça intensas, problemas alimentares e alterações persistentes no sono. “Não existe um exame para detecção da doença, por isso é importante procurar ajuda de um profissional qualificado para analisar o caso, acompanhar e indicar o tratamento mais adequado”, salienta a psicóloga.
Quanto às causas do problema, a especialista cita três: a hereditariedade, já que pessoas que possuem parentes biológicos de primeiro grau diagnosticados com a síndrome têm cinco vezes mais chances de desenvolvê-la; aspectos fisiológicos: observa-se em alguns casos alterações cerebrais que estão associadas a áreas do controle do humor e dos impulsos, assim como alguns tipos de lesões nessa área. E há ainda as características ambientais, com casos envolvendo crianças negligenciadas pelos pais e familiares, crescendo em ambientes conflituosos, ou que sofreram traumas, violência, abuso e bullying.
A doença está muito relacionada à infância, já que, em boa parte dos casos, as pessoas que sofrem com esse transtorno vivenciaram, quando menores, situações traumáticas. E mais! Para pessoas que já possuem certa propensão a desenvolver o problema, o uso de álcool e drogas pode elevar ainda mais os riscos.
O tratamento do transtorno pode incluir psicoterapia e acompanhamento psiquiátrico, com foco em um cuidado completo dos sintomas e do quadro. “Dependendo do caso, pode ser necessário o uso de medicamentos específicos e atendimento integrado de um psicólogo e psiquiatra. Terapias individuais e em grupo são medidas importantes nesse processo. E, claro, é imprescindível o envolvimento e o apoio familiar”, completa Jussara.